dia internacional do blogue

Em tempos antediluvianos — antes das redes sociais e dos smartphones —, quando com muita bricolagem digital ainda mantínhamos animados e prolixos blogs a partir de nossos computadores pessoais, tínhamos por hábito manter uma lista de sugestões de visita e leitura de outros blogs. Isto era chamado de “blogroll”. Aqui mesmo eu mantenho um “blogroll” pessoal, por mais anacrônico que isso pareça.

Naqueles tempos pré-históricos — dos quais temos poucos registros, a maioria graças ao maravilhoso Internet Archive — convencionou-se comemorar informalmente no dia 31 de agosto — ou seja, hoje! — o Dia Internacional do Blog, quando pedia-se a todos os “blogueiros” que selecionassem e destacassem em meio a seus “blogrolls” cinco blogues especialmente recomendáveis para que seus leitores conhecessem.

blogs morreram, vida longa aos blogs

A morte dos blogs foi pré-anunciada em 2010 com o famoso artigo “The Web is Dead” publicado na Revista Wired. Desde então esta morte vem se arrastando lentamente, ainda que nunca se complete de fato: alguns de nós, por mais patético que isso pareça, continuam a insistir em “blogar” de vez em quando.

(sim, eu sei, “blogar” é uma palavra horrível demais)

Parte da graça dos blogues migrou primeiro para os podcasts e mais recentemente para as newsletters, uma forma de publicação digital típica dos anos 1990 curiosamente redescoberta quase trinta anos depois de seu auge.

O auge dos blogues brasileiros ocorreu por volta de 2010, quando tínhamos por hábito visitar saudosas páginas como O hermeneuta; Liberal Libertário Libertino (do escritor Alex Castro); NPTO (do atual colunista da Folha de São Paulo e sociólogo Celso Rocha de Barros); Ao Mirante Nelson, entre vários outros (muitos dos quais vale a pena permanecerem no esquecimento). Alguns permanecem vivos, ainda que pouco conhecidos, como o blogue de Rafael Galvão e outros mantêm a justa fama que sempre tiveram, como o célebre blogue de Lola Aronovich, Escreva, Lola, Escreva. Iniciativas como o das Blogueiras feministas foram fundamentais para a relevância que um movimento como o feminismo tem hoje no Brasil.

Enfim, longe de qualquer saudosismo, era um tempo com muitos lugares legais na internet.

5 blogues para conhecer

Para celebrar a velha arte da “blogagem” — outra palavra horrível, assim como “blogosfera” —, vamos retomar o hábito de indicar cinco sobreviventes blogues no dia 31 de agosto.

  • Manual do usuário. Mantido pelo jornalista Rodrigo Ghedin, é certamente um dos lugares mais legais da internet brasileira — um oásis no deserto repleto de redes sociais tóxicas e sufocantes. Diferente das grandes revistas eletrônicas sobre tecnologia de consumo (que surgiram como blogues e hoje são grandes portais de conteúdo, como Macmagazine e Tecnoblog), o MdU permanece um veículo independente e autoral, sem no entanto abrir mão de rigor e profissionalismo.
  • Momentum Saga. Dedicado à ficção científica e a outras formas de literatura de gênero e ficção especulativa de um modo geral no cinema, TV e nos livros, o Momentum Saga é produzido pela escritora conhecida pela alcunha de Lady Sybylla. O blogue possui um toque pessoal bastante reminiscente dos blogues dos anos 2000.
  • Arun.is. Blogue do designer Arun Venkatesan. Além do tom pessoal das postagens, próprio dos blogues dos anos 2000, elas se caracterizam por um esmerado trabalho visual e gráfico. Só as imagens de destaque de cada postagem já valem a visita.
  • Catatau. Um blogue pessoal criado em 2006 e ainda ativo. Comentários razoáveis sobre aspectos políticos, culturais e sociais do mundo contemporâneo sem o ritmo frenético e neurótico das redes sociais.
  • Querido leitor. O clássico blogue de Rosana Hermann — onde justamente fomos lembrados hoje de que é o Dia Internacional do Blog.

Uma menção honrosa vai para o Medo e delírio em Brasília: embora todos conheçam o podcast produzido e editado por Cristiano Botafogo, muitos se esquecem de que ele teve origem neste blogue-raiz hospedado no wordpress.com escrito por Pedro Daltro e no qual se documenta obstinadamente cada dia miseravelmente vivido por todos nós ao longo do infindável regime miliciano em que a gente se meteu. Outra menção honrosa vai para o clássico e já saudoso Kottke.org, que vive desde maio um sabático sem previsão de retorno.

Que possamos continuar recomendando blogues no ano que vem.


A imagem que ilustra essa postagem vem do Wikimedia Commons.

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