De vez em quando tenho conversado com alguns funcionários de empresas prestadoras de serviços de higiene e limpeza — os famosos e invisíveis terceirizados.
Confirmo em tais conversas sempre um mesmo fato, o qual em teoria já sabemos mas que, ao ser ouvido na prática, surge como uma espécie de choque de realidade em nossas vidinhas patéticas e confortáveis de classe média: além de tudo a que eles se submetem para sobreviver — desprezo social, trabalho árduo e braçal, condições insalubres, impossibilidade de organização sindical e estabelecimento de laços afetivos com o local de trabalho devido à alta rotatividade, etc —, eles ganham mal. Muito mal: não mais que um salário mínimo bruto, mesmo permanecendo em uma mesma empresa durante vários anos.
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Hoje, subindo a escada de um metrô em São Paulo, ouço a seguinte fala em meio à conversa de dois transeuntes próximos de mim:
— Que história é essa? Agora funcionário de limpeza está ganhando mais que estagiário de direito? É um absurdo.
Não há nada de engraçado em episódios envolvendo idiotas desse nível.