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Fonte: http://bitly.com/1kNgw2I

Breve comentário do professor britânico de arquitetura Jeremy Till sobre a moda da fabricação digital. Acho que eu também seja um ludita…

Início do novo milênio. Blobs convivem conosco mas já começam a parecer cansados. Com o dobro de velocidade ganho anualmente nos computadores, ganha-se também um igual dobro anual de complexidade formal. Novas morfologias transmutam-se como vírus incontroláveis: no futuro os historiadores da arquitetura terão de conhecer mais sobre os submenus de algum pacote qualquer de software do que eventuais correntes estilísticas de influência. Estou em uma escola de arquitetura, conversando com a bibliotecária. Ela lamenta que ou os estudantes não estão mais lendo ou preferem textos sobre evolução biológica à teoria arquitetônica. Tento animá-la dizendo que ao menos não será necessário espremer o patético orçamento dela. Mais tarde, converso com um grupo de professores de projeto.

“Nós precisamos…,” diz um deles, olhando nos meus olhos, “Nós temos de conseguir uma máquina de corte CNC.” Nada de “seria bacana ter uma”: tratava-se de uma necessidade.

“Por quê?”, pergunto.

“Para que estejamos atualizados,” um outro responde.

“E quanto custa um destes milagres?”

Uma soma dez vezes superior ao supracitado orçamento da biblioteca é mencionada. Olho com espanto e tal olhar revela que não sou um zelote do progresso. Mais tarde, em um bar, com minha guarda rebaixada, isto se confirma à medida em que eu divago: “Então é isto. O futuro da arquitetura. Um bando de apertadores de botões analfabetos.” As trocas de olhares ao meu redor diziam mais que as próprias palavras. Eles estavam diante de um ludita.

[TILL, Jeremy. Architecture Depends. Cambridge: MIT Press, 2009, pp.88–89]

Na posição em que se encontra, Till talvez não consiga perceber que a existência de arquitetos, desde sempre, só foi possível devido à imposição da condição de “apertador de botões analfabeto” a toda uma massa de trabalhadores da construção. Não deixa de ser curioso, no entanto, notar como causa estranheza aos arquitetos do centro do capitalismo quando eles percebem que o desenvolvimento tecnológico gera mais precarização e proletarização do que propriamente progresso material para os seus envolvidos, já que agora serão os próprios arquitetos do topo da pirâmide os trabalhadores “braçais”.

Por outro lado, as transformações trazidas com a fabricação digital podem, porém, ser positivas: com a banalização do trabalho “intelectual” (como se pudesse haver trabalho não-intelectual) e a proletarização de seus agentes, talvez o trabalho “braçal” deixe de ser tão mal visto…

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