imagens da quarentena (5/4): meme do caixão

5 de abril de 2020, décimo quarto dia da quarentena

É impressionante como o meme dos carregadores de caixão de Gana viralizou rápido nesta última semana. Assisti ao primeiro vídeo do tipo há apenas alguns dias no Twitter, mas segundo as informações registradas na enciclopédia de memes Know Your Meme, o meme teria surgido no famigerado TikTok na última semana de fevereiro. Tal a rapidez com que os vídeos viralizaram e o falatório que eles têm gerado, eles certamente se tornarão o meme da pandemia — por mais mórbido ou perturbador que isto possa parecer para muitos.

A fórmula, de início impactante e hilária, rapidamente se revela repetitiva e até mesmo irritante. Contudo, ela talvez seja útil para dar conhecimento às fascinantes práticas ligadas aos rituais de luto de Gana: os dançarinos responsáveis por carregar os caixões cuja imagem foi surrupiada (e, para o bem ou para o mal, eternizada fora de Gana) pelo meme aparentemente são profissionais responsáveis por promover um trajeto adequado e feliz do caixão até a sepultura.

Para além da dança durante o trajeto, as práticas do luto e do sepultamento na região da Grande Acra, em Gana, aliás, são igualmente fascinantes para nossos olhares estrangeiros. Em 1989 ocorreu uma exposição no Pompidou, em Paris, que talvez pela primeira vez tenha difundido fora de Gana a prática dos chamados “caixões fantásticos“. Pela tradição local, as famílias encomendam a artistas e mestres reconhecidos pelo seu ofício a execução de caixões personalizados, com formatos variados (que vão de aviões a carros e foguetes). Há estúdios locais especializados nesta arte e ofício estabelecidos já há décadas, tornando a prática um verdadeiro patrimônio imaterial local.

Talvez, se não fosse pelo meme, eu nunca viria a conhecer o fenômeno.


São tempos difíceis, todos sabemos. O presidente da República atenta contra a saúde pública todos os dias, seja com pronunciamentos estapafúrdios, seja com canetadas perversas. Estamos em casa e esperamos achatar a famosa curva. Enquanto não há muito mais o que fazer, olhamos para alguns dos objetos cotidianos ao nosso redor.

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