4 de abril de 2020, décimo terceiro dia da quarentena
Saía todos os dias com essa pequena bolsa a tiracolo. Sempre levava um caderninho sem pauta e algumas canetas nanquim descartáveis para poder rabiscar quando a oportunidade surgisse — sei que desenhistas de verdade detestam usar a palavra “rabisco” para se referir ao ato de desenhar, mas no meu caso trata-se mesmo de um prazeroso hábito de rabiscação. Além disso, concentrava cabos e carregadores — a vida contemporânea é uma eterna busca por fontes de energia para celulares, tablets, computadores, etc.
Encontrei essa bolsinha há alguns anos numa lojinha de material de couro (e de imitação de couro) em uma galeria da rua Barão de Itapetininga. É um produto “sem marca”, nada descolado, mas que me serve bastante bem — e não encontrei nada parecido em lojas de shopping center e afins no mesmo valor.
Nestes tempos de confinamento, a bolsa permanece agora solitária e recolhida em algum canto de meu quarto de estudos. Desenhar todos os dias (ou quase) tem sido um exercício interessante para substituir a rotina cotidiana interrompida.
São tempos difíceis, todos sabemos. O presidente da República atenta contra a saúde pública todos os dias, seja com pronunciamentos estapafúrdios, seja com canetadas perversas. Estamos em casa e esperamos achatar a famosa curva. Enquanto não há muito mais o que fazer, olhamos para alguns dos objetos cotidianos ao nosso redor.