7 de junho de 2020, septuagésimo-sétimo dia da quarentena
Mundo da Lua certamente era um dos programas de televisão favoritos de minha infância, assim como grande parte do que produzia a TV Cultura para o público infantil nos anos 1990. Apesar da qualidade, não deixa de ser uma espécie de adaptação, ainda que com alta dose de originalidade, dos enlatados familiares estadunidenses ao cotidiano da classe média branca brasileira.
A “casa de vó” na qual morava Lucas Silva e Silva sempre me chamava a atenção. Curiosamente, ela parece muito mais próxima, tanto quanto isto seja possível, à realidade suburbana dos enlatados americanos de classe média do que da realidade de moradia da maior parte dos brasileiros. Não por acaso, a casa real que cedia sua imagem à da série localiza-se em Alto de Pinheiros, bairro bastante exclusivo da elite paulistana — embora, reconheça-se, o quintal dos fundos, quando aparecia, era muito próximo dos quintais de muitas das crianças que assistiam ao programa.
Mas tudo bem. Quem não queria morar numa casinha simpática como aquela?
Olhando em retrospecto, uma curiosidade: pelo que se pode deduzir do formato e leiaute da planta da casa, trata-se de um espaço que nada ou muito pouco tem a ver com aquela agradável fachada.
São tempos difíceis, todos sabemos. O presidente da República atenta contra a saúde pública todos os dias, seja com pronunciamentos estapafúrdios, seja com canetadas perversas. Estamos em casa e esperamos achatar a famosa curva. Enquanto não há muito mais o que fazer, olhamos para alguns dos objetos cotidianos ao nosso redor.