sobre o ato do dia 07.03.2009 em repúdio à Folha de S. Paulo: imagens

Publicado originalmente em http://stoa.usp.br/gaf/weblog/45431.html no dia 21 de março de 2009.

protesto em repúdio à Folha de S. Paulo

Em continuidade a esta postagem. Imagens do ato podem vistas aqui.

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Continuo cético em relação às possibilidades da internet e das novas tecnologias em promoverem uma nova esfera pública, de fato, ou novas formas de ação política. Mas o ato em repúdio ao episódio "ditabranda" revelou que tentativas de promovê-la em tais espaços são necessárias e possíveis. 300 pessoas compareceram ao evento, mesmo não tendo ele sido organizado por qualquer partido ou sindicato – veículos de ação política tradicionalmente associados a manifestações de massa, mas viciados e esgotados em termos de prática política direcionada às transformações sociais. Não acredito que a organização popular ou a implantação de um poder popular tenham na internet e nas mídias digitais seu lugar potencial de concepção, mas o ato mostrou ao menos que já existe um pequeno e independente circuito de mídia alternativa à grande mídia de massas. É um começo. Falta popularizá-lo e dotá-lo de pleno significado político.

protesto em repúdio à Folha de S. Paulo

Acho exageradas as declarações da blogosfera de que a mídia tradicional ficou "de joelhos" ou de que eles se sentiram ameaçados. Longe disso: para eles, o ato foi no máximo caricatural. Mas não é isso realmente que importa. Não interessa qual a reação da mídia de massas à realização da manifestação, o que interessa são as possibilidades que o ato cria para as mídias alternativas. Mais: como as mídias alternativas podem se transformar efetivamente em um contraponto à grande mídia? Se desejamos mudanças, elas não acontecerão por meio de um protagonismo da internet. Mas nada disso invalida a iniciativa de realização do protesto. Como já disse, é apenas um começo.

protesto em repúdio à Folha de S. Paulo

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Em tempo e apenas para frisar: não compareci ao ato para apenas protestar contra a Folha. Seria arrogância tentar limitar a liberdade de expressão do jornal, por mais elitista e arrogante que ele mesmo seja. Fui ao ato pela potencialidade que ele tinha de demonstrar a insatisfação de uma parte da população com a mídia de massas no Brasil – controlada pelas elites e envolvida perigosamente com os setores mais atrasados e antidemocráticos do país. A revista Veja é hoje uma porcaria caluniadora e timidamente golpista. Veja já perdeu em meios acadêmicos qualquer credibilidade que porventura ela tenha tido algum dia. O Estadão permanece conservador e a FSP vai pelo mesmo caminho.

Vivemos uma ditadura da mídia. A imprensa é falsamente livre: da mesma forma que na URSS o Pravda oferecia ao povo a visão oficial (e deturpada) dos acontecimentos, no Brasil a Abril, a Globo, o Estadão, a FSP, entre outros, promovem também a visão oficial e deturpada dos acontecimentos. Acontece que na ditadura soviética quem determinava a visão oficial era o Estado. Aqui, quem a determina são as elites.

barão de limeira

E é justamente contra este estado de coisas que vale a pena protestar: a violenta condição de segregação a que é submetida a maior parte da sociedade brasileira, seguindo docilmente os desígnios de uma elite pouco interessada no país e em seu povo. Segregação que se expressa especialmente no (não)acesso da população aos meios de comunicação. Por isto faz todo sentido um "movimento dos sem-mídia". E por isto fez todo sentido protestar. De resto, continuo pessimista.

Aliás, esse é um dos motivos pelos quais votei em Luiza Erundina para a Câmara dos Deputados, dada sua atuação pela democratização dos meios de comunicação, além de toda a sua trajetória política exemplar.

Ainda em tempo: uma análise interessante sobre a relação "internet x mídia tradicional" e um resumo dos fatos foi escrito pelo professor Eugênio Bucci, ex-diretor da Radiobrás, no Observatório da Imprensa. O artigo encontra-se aqui.

 

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