26 de março de 2020, quarto dia da quarentena
Alguns anos atrás passeávamos num fim de tarde pela Praça da Figueira, em Lisboa. Era nossa primeira vez naquela simpática cidade e tudo era novidade: deparamo-nos, então, com uma discreta lojinha de bonecas posicionada no corredor de acesso de um edifício residencial. O local — o Hospital das Bonecas — é certamente bastante conhecido pelos locais e tem alguma notoriedade entre entusiastas do mundo das miniaturas e apreciadores e colecionadores de bonecas e brinquedos, mas obviamente o ignorávamos completamente. Diz-se, inclusive, que sua origem é mais do que centenária.
Naquele local apertado, mas aconchegante, ouvimos uma melodia familiar. Não demorou para que a canção viesse à mente: “Bem unidos, façamos / Nesta luta final / Uma terra sem amos / A internacional.” Tratava-se, afinal, de uma caixinha de música com a melodia do célebre hino comunista.
Desde então a caixinha — comprada em Portugal e provavelmente produzida na China — descansa em nossa mesa de trabalho. Ela nos ajuda a desacelerar durante tarefas urgentes ou estressantes e é sempre um lembrete de um mundo melhor quando tudo vai mal.
São tempos difíceis, todos sabemos. O presidente da República atenta contra a saúde pública todos os dias, seja com pronunciamentos estapafúrdios, seja com canetadas perversas. Estamos em casa e esperamos achatar a famosa curva. Enquanto não há muito mais o que fazer, olhamos para alguns dos objetos cotidianos ao nosso redor.