rodrigo lefèvre: notas de um estudo sobre os objetivos do ensino de arquitetura… [1]

originalmente postado em http://notasurbanas.blogsome.com/2010/01/05/rodrigo-lefevre-notas-de-um-estudo-sobre-os-objetivos-do-ensino-de-arquitetura-1/

LEFÈVRE, Rodrigo. Notas de um estudo sobre os objetivos do ensino de arquitetura e meios para atingi-los em trabalho de projeto. São Paulo: FAUUSP (mimeo), 1978. SIBI-USP: FAU/F720.1 L521n

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Texto inspirador e provocativo. Estabelece perspectivas de pensar o trabalho de projeto no ensino de arquitetura como forma de construção do conhecimento e da ação política, para além apenas da conscientização do estudante.

Lefèvre luta contra um ensino “erudizante”, despolitizado, subjetivista quando falsamente objetivo, cuspidor de dogmas e redutor do universo da arquitetura ao microcosmo muitas vezes hipócrita da relação estudante-professor. Trabalho de inspiração nitidamente freireana, Lefèvre não reduz o papel do educador, mas coloca no estudante o protagonismo da construção do conhecimento.

Vai um trecho do capítulo 4 (“Notas esparsas sobre cuidados metodológicos a serem adotados, em vista de condições concretas existentes”). É uma das passagens menos complexas e mais diretas, mas ainda assim interessante.

1.
A primeira delas se refere diretamente aos processos e às relações que têm que ser “simulados” por condições concretas de funcionamento da FAU que, com sua situação institucional, não permite senão isso (e talvez mesmo, se conseguíssemos mudar essa situação institucional da FAU, talvez outros problemas surgissem hoje, mais graves.

[…] é uma atitude que aparece sobretudo entre os professores, que em última instância podem se colocar como substitutos da realidade e que aquelas pichações de mundo “representadas”, com suas suposições, só poderiam ser verificados, confirmados ou negados se adotados como hipóteses para ações de modificação da realidade ampla: nenhum projeto feito peelos alunos participa dos processos de produção, de utilização e de conservação dos objetos que o projeto propõe; nenhuma hipótese urbanística pode ser testada concretamente. […] vai restar o desconhecimento das formas possíveis de percepção das respostas da realidade; vai restar a ideia de que basta um professor ou um grupo de professores e alunos confirmarem ou não as suas hipóteses para que isso entre em sua estrutura de conhecimentos e ate mesmo em seu núcleo de evidência; vai restar o desconhecimento da necessidade de formulação de hipóteses tendo por base a sua estrutura de conhecimentos, ao substituir essa procura por uma procura de proposições, conclusões, soluções que de antemão o aluno sabe que o professor ou o grupo de professores e alunos vai aprovar, mas que são descoladas da sua estrutura de conhecimentos ou são coladas só numa relação de oportunismo (talvez mesmo por tudo isso aparecem estudantes com a tendência de se fecharem em grupos auto-aprovadores de suas proposições; ou estudantes que começam a renegar o projeto de arquitetura por essa mistificação das relações entre o seu objeto e a realidade mais ampla e vão acabar se refugiando num estudo livresco, vazio, na tentativa de que esse estudo lhe garanta, a priori, a elaboração de “teses” arquitetônicas ou urbanísticas, isto é, de proposições de tal forma “corretas”, pelo fato de terem saído de textos “corretos”, de dados “corretos”, de análises da realidade “corretas”, que não precisam vir a ser testadas; ou estudantes que vão tocar violão; ou estudantes que compram um barco e vão para a represa).

Os grifos são meus.

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