22 de abril de 2020, trigésimo-primeiro dia da quarentena
Já faz um mês que não pegamos o metrô, que não vivemos a cidade, que não caminhamos pelas ruas. Se, por um lado, estruturas como o metrô são provavelmente sinônimo e indício de um cotidiano duro e sofrido, ao mesmo tempo talvez tais espaços sejam também marcos de memória e de construção de subjetividades do paulistano médio. E é estranho, muito estranho, que nós nos vejamos de repente completamente apartados dessas estruturas.
Hoje soubemos que Dória — governador do estado — e Covas — prefeito do município — cederam à pressão dos patrões paulistanos e determinaram já a abertura gradual do comércio e dos serviços na cidade. Ainda não chegamos ao pico da doença e tudo indica que a população mais pobre, mais periférica e mais explorada será a mais afetada por essa medida irresponsável.
O que fazer quando é irresponsável chamar atos de rua para protestar contra esses absurdos?
São tempos difíceis, todos sabemos. O presidente da República atenta contra a saúde pública todos os dias, seja com pronunciamentos estapafúrdios, seja com canetadas perversas. Estamos em casa e esperamos achatar a famosa curva. Enquanto não há muito mais o que fazer, olhamos para alguns dos objetos cotidianos ao nosso redor.
Imagem baseada nesta fotografia de Eli K. Hayasaka.