originalmente postado em http://notasurbanas.blogsome.com/2010/02/18/ca-lado-de-la/
Ver a pontinha do topo da dupla de edifícios mais famosa de São Paulo a partir do outro lado da várzea é sempre uma experiência no mínimo bonita. Forçando um pouco, dá até pra ver o Hilton.
Sobre o lado de cá e o lado de lá (grifos meus):
Finalmente a classe dominante produz também uma ideologia que muito facilita seu controle sobre a pro- dução do espaço construído urbano. Ela (e com ela toda a sociedade) faz, por exemplo, com que se chame de “cidade” aquela parte da cidade nas quais tem interesse. Identificando tais partes com “a cidade” ela pode melhor justificar as leis e obras que faz para melhorá-las, como leis e obras destinadas a melhorar “a cidade”. Ela chama, por exemplo, de “centro” da cidade, a parte do centro que é de seu interesse ou o “seu” centro. O “novo centro” da cidade de São Paulo é a região Paulista/Faria Lima, diz a ideologia burguesa. No entanto, para as classes dominadas, o centro continua (agora mais que nunca) sendo o “centro velho” pois lá é que estão hoje suas lojas, seus cinemas e seus profissionais liberais. A burguesia abandonou os centros de nossas cidades alegando que ele estava se “deteriorando”, quando na verdade essa “deterioração” é efeito e não causa do abandono. […]
A ideologia dominante procura assim esconder o real processo de construção da cidade, o que, aliás, tem conseguido com sucesso pois a maioria das pessoas, mesmo das classes subalternas, acredita realmente que a Avenida Paulista e não o Triângulo é o centro da cidade e que o “perto “ e o “longe “ são dados da natureza e não o resultado de um processo conduzido pelos homens.
in VILLAÇA, Flávio. O que todo cidadão precisa saber sobre habitação [pdf], 1986, p.47. Disponível em [http://www.flaviovillaca.arq.br/livros01.html]