gentrificação na copa do mundo

originalmente postado em http://notasurbanas.blogsome.com/2010/06/09/gentrificacao-na-copa-do-mundo/

Pouco tem sido dito sobre a ocorrência de processos de gentrificação nas cidades sulafricanas agredidas pela Copa do Mundo. Esta matéria do caderno de Esportes (!) da Folha de São Paulo é das poucas coisas publicadas a respeito.

O que ocorre lá com os ex-moradores do centro da Cidade do Cabo ocorre aqui, porém, todos os dias. E aqui as pessoas já estão acostumadas, o apharteid social e urbano brasileiro parece invisível a todos.

A África experimenta a Copa

Removidos para a periferia da Cidade do Cabo, ex-moradores pobres do centro reclamam de vida em “campo de concentração”

Fábio Zanini

A 30 km do novíssimo estádio Green Point, o assentamento improvisado de Blikkiesdorp está separado da Cidade do Cabo pela enorme pista do também novíssimo aeroporto local.
Parece feito sob medida para não ser visto pelos milhares de torcedores que rumarão direto do terminal de desembarque para as muitas atrações da cidade mais turística do país da Copa.
Para seus 3.000 residentes, a Copa do Mundo é uma maldição. Por causa dela, dizem, foram removidos das áreas centrais da cidade e jogados no que chamam de “depósito de gente”, ou “campo de concentração”.
O local é cercado por grades. Os moradores vivem em barracos de zinco de 18 m2, em que o forro do teto é feito de plástico-bolha e o piso é um adesivo imitando lajotas.
As paredes, de tão finas, podem ser cortadas por tesouras e oferecem proteção mínima contra o frio e a chuva. No verão, o lugar queima.
“Me disseram que eu iria para um abrigo temporário. Estou aqui até hoje “, diz Andrew Maqoyie, 33, que era morador de rua na região do estádio. Ele foi retirado de lá em 2007, quando a arena começou a ser construída.
Muitos moravam de maneira precária no centro, em casas abandonadas ou nas calçadas, mas agora, dizem, a vida piorou. Além de dividirem latrinas e tomarem banho de balde, estão longe de oportunidades de emprego.
Marietta Monagiee diz que vivia no bairro central de Woodstock. Trabalhava como cozinheira numa sinagoga em Sea Point, também na área central. Após ser transferida para Blikkiesdorp, tentou manter o emprego por uma semana, mas desistiu.
“Às vezes era preciso trabalhar até tarde, e não há transporte de volta para cá”, afirma. “Passei anos morando onde estava e nunca me tiraram. Estou aqui por causa da Copa do Mundo”, afirma.
Hoje desempregada, Marietta sobrevive dos 750 rands (R$ 190) que suas três crianças recebem da versão local do Bolsa-Família.
Segundo Jane Roberts, líder comunitária local, a prefeitura nunca admitiu que a limpeza era em razão da Copa. “Para nós, isso é obvio. Éramos má publicidade.”
O assentamento fica num local isolado. Chegar ao centro leva duas horas, primeiro em lotação e depois de trem. São 30 rands (R$ 7,50) a viagem de ida e volta, que pesam no orçamento de quem mal ganha mil rands ao mês.
A falta de poder aquisitivo local obriga os donos de vendinhas a serem criativos. Ismail Mosa, 57, vende açúcar em saquinhos plásticos, ao preço de um rand. “Aconteceu aqui o mesmo que durante o apartheid. Os pobres foram expulsos para dar lugar aos ricos”, diz.

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