palestra de reinhold martin sobre o "fantasma da utopia" e a arquitetura pós-moderna

Reinhold Martin é um professor e pesquisador de história da arquitetura na prestigiada Escola de Arquitetura, Planejamento e Preservação da Universidade de Columbia e sócio do escritório Martin/Baxi, sediado em Nova Iorque. Martin é autor do livro Utopia’s Ghost — Architecture and Postmodernism, again e se destaca por ser dos poucos (fora do campo da filosofia e da geografia, que tradicionalmente fazem leituras da história da arquitetura contemporânea muito mais interessantes e coerentes) autores a oferecer uma abordagem menos apaixonada e mais bem articulada sobre a história da arquitetura recente no século XX.

Reinhold Martin. Utopia's Ghost. Architecture and Postmodernism, again. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2010.

Apesar da qualidade diferenciada da narrativa construída por Martin, ele apresenta alguns pequenos equívocos metodológicos e conceituais. Nesta palestra, ocorrida na Universidade Rice em 2009, por exemplo, apesar de se amparar nos mais relevantes pensadores marxistas a tratar do tema (Harvey e Jameson — os quais são já bastante díspares um do outro), comete alguns deslizes, como alegar que o pós-modernismo não teria sido uma “ideologia” mas um “discurso”. Mesmo que ele não tenha usado o sentido mais rigoroso da palavra “ideologia”, ainda assim a afirmação parece um contrassenso: claro, o autor quer enfatizar uma abordagem crítica de um momento histórico e não de um suposto movimento. Mesmo assim, ao enfatizar tão artificial cisão entre “ideologia” e “discurso”, o autor está claramente se afastando (e talvez de forma não consciente) de explorar as contradições entre o discurso e suas bases materiais — e aí, está claro, explorar o papel ideológico do fenômeno estudado. De qualquer forma, reconhece o papel reduzido do arquiteto na definição efetiva das decisões espaciais.

Além disso, também recorre a alguns cacoetes discursivos (comparação entre estratégias de marketing da IBM e da Apple; associação entre a demolição do Pruitt Igoe e do World Trade Center, ambos projetados por Minoru Yamasaki, etc), tanto no livro quanto na palestra. Ao longo do texto, porém, tais construções discursivas funcionam bem.

O argumento de Reinhold, no entanto, é bastante coerente e interessante ao embasar todo o seu raciocínio na assertiva de que não seria a arquitetura pós-moderna apenas um reflexo do conjunto de transformações estruturais que sofreu o capitalismo nos anos 70–90 nem apenas um “campo privilegiado” para discutir tais transformações (como fez sobretudo Jameson), mas um campo que articulou-se dialeticamente a tais transformações, ajudando-as a ocorrerem na mesma medida em que elas a possibilitaram. Trata-se, portanto, de uma necessária leitura das abordagens externas à disciplina a partir de um olhar disciplinar interno.

O autor também se sente incomodado com o “pessimismo” de Tafuri, por vezes… No entanto, não procura qualquer “esperança perdida no projeto” nem adota a postura cínica avessa como encontrada em Koolhaas.

Para ler mais tarde: http://oaj.oxfordjournals.org/content/early/2011/07/08/oxartj.kcr024.extract

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