originalmente postado em http://notasurbanas.blogsome.com/2010/02/08/reacao-a-tafuri-anos-80-eua-1/
No início dos anos 80 um grupo de acadêmicos estadunidenses, duplamente incomodados com a condição em que se encontrava a produção de teoria da arquitetura naquele momento naquele país resolveram chamar alguns estudiosos (como o crítico literário Fredric Jameson) para um evento. Estavam duplamente incomodados pois tanto o momento político era conservador (início da era Reagan) quanto o máximo que se produzia de teoria e história da arquitetura ou era a crítica sofisticada e de público limitado da revista oppositions ou abordagens ainda bastante operativas e de maior repercussão do tipo Curtis ou até mesmo Frampton. Incomodava sobretudo o fato do papel da ideologia ser ignorado no estudo da arquitetura. A escola de Veneza tafuriana (nascida já fazia pelo menos mais de uma década) ainda era algo por demais longínquo ou obscuro. Por mais que Tafuri fosse frequente contribuidor da revista oppositions, suas ideias ainda eram de algum modo inéditas nos EUA.
O simpósio se deu justamente no Instituto de Arquitetura e Estudos Urbanos da Nova Iorque (o mesmo da oppositions) e se chamou Revisions. No ano seguinte (1982) foi publicado o livro architecture criticism ideology, editado por Joan Ockman. Os textos referentes ao seminário são de Fredric Jameson, Demetri Porphyrios e Tomas Llorens. Há ainda comentários de Beyhan Karahan e Jon Schwarting, além de textos outros selecionados de Colquhoun e Tafuri. De uma forma geral, porém, trata-se de uma breve coletânea de análises e comentários sobre as ideias do italiano. Curiosamente havia naqueles textos um frescor ou um desejo de produzir teoria e crítica que não vejo hoje – pelo menos não na academia.
A introdução escrita por Mary McLeod apresenta o seguinte:
[…]
Twentieth-century architectural criticism and theory thus appeared to us as largely divorced from systematic ideological investigation. The naive utopianism of the modern movement, the social criticism of the sixties, the semiological analyses of the seventies, and contemporary eclectic approaches – all fail to examine architecture’s “real connection” to material processes. Although architecture of the all arts is most directly tied to economic and social conditions given both its scale of production and public use, the field contains almost no tradition outside the Soviet Union of Marxist criticism of Marxist avant-garde practice. During the thirties, when the United States art historians such as Meyer Schapiro and Clement Greenbert, strongly influenced by Marxist theory, sought to reveal the ideological nature of painting and sculpture, no equivalent socially based criticism emerged in architecture. Even the Frankfurt School largely ignored architecture. There exists no Marxist study devoted to architecture comparable in scope and quality to Lukács’s investigations of the novel or Adorno’s analysis of music. Only recently, in Italy, can we see a historical, materialist criticism beginning to develop.[…]
The following papers will address these emergent positions. […]
A synthetic position can hardly be defined from such divergent approaches. It is our hope only that these papers will help to open discussion concerning the nature of architecture and ideology. With Fredric Jameson, in The Political Unconscious, we wish to continue to ask:
How is it possible for a cultural text that fulfills a demonstrably ideological function, as a hegemonic work whose formal categories as well as its content secure the legitimation of this or that form of class domination — how is it possible for such a text to embody a properly utopian impulse, or to resonate a universal value inconsistent with the narrower limits of class privilege that inform its more immediate ideological vocation?
This question, in face of a highly conservative political and cultural climate, appears to us, as practicing architects and critics, central to our own endeavours.
—
todos os grifos são meus
McLEOD, Mary. “Introduction” in OCKMAN (org.). Architecture Criticism Ideology. Nova Jérsei: Princeton Architectural Press, 1985
Parece-me que as condições políticas — clima cultural e político altamente conservador — são similares no Brasil atual. Vinte anos depois, ainda precisamos fazer teoria.